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Capital intelectual, um futuro que já chegou

Marco Aurélio Ferreira – Presidente do MVC – Instituto M Vianna
COSTACURTA ESTRATÉGIA E HUMANISMO
Peter Drucker, nosso mestre maior, já advertia em 1983 sobre a importância do trabalhador intelectual (knowledge worker). A partir de 1994, com Tom Stewart nos Estados Unidos e Leif Edvinsson na Suécia, a idéia vem ganhando cada vez mais força. A final de contas, temos que considerar que algumas coisas realmente podem ser consideradas fenômenos de ruptura (breaktrhrough). A maior indústria de tênis do mundo, a Nike, não tem fábrica. A livraria de maior crescimento no mundo, a Amazon, não tem um metro quadrado de lojas. A Lotus foi vendida à IBM, por quinze vezes seu valor patrimonial. A Microsoft vale em bolsa cem vezes o valor do seu ativo tangível. A filial americana da Nokia fatura 200 milhões de dólares com 5 empregados. A verdade é pura e simples. A administração tradicional, aquela do organograma jurássico e burocrático, vem dedicando uma parcela de sua energia, tempo e recurso cada vez menor ao verdadeiro valor das organizações: sua inteligência competitiva ou, usando uma expressão de cunho mais tecnológico, o seu ativo intangível.
Sem a pretensão de englobar todos os cenários, essa matéria tem como objetivo alertar para algumas tendências que tornarão a gestão do Capital Intelectual (ativo intangível ou inteligência competitiva) não só uma ferramenta cada vez mais importante como também, no sentido mais profundo do termo, um novo paradigma deste início do Século XXI. Empresas de todos os portes, incluindo a miríade de empreendedores que iniciarão seus negócios nessas próximas décadas, deverão incorporar nos seus negócios esta nova maneira de pensar. Contabilizar, administrar, auditar, gerenciar, planejar, organizar, controlar e todos os outros verbos que formam a administração tradicional, estarão destinados a apenas 20% do valor real de uma empresa. Permanecer neste caminho será a tática mais rápida para o fracasso empresarial(*). As principais tendências que fortalecerão este movimento ficam a seguir discriminadas:
1. Empresas vão operar cada vez mais em redes (networks)
Em progressão geométrica, pequenos núcleos de grandes cérebros serão capazes de criar negócios de grande porte através de sua capacitação de concertação, formação de empresas em rede e desenvolvimento de marca. O ativo tangível destas networks será uma parcela cada vez menor do valor global do negócio estruturado.
Pergunta Crítica Sobre Capital Intelectual (PCCI): Que rubricas deverão ser incorporadas ao Capital, ao Patrimônio Líquido e ao Ativo da empresa, quando um pequeno grupo de pessoas for capaz de articular lucrativamente centenas de empresas pertencentes a uma mesma rede?
2. O emprego tradicional tende a diminuir drasticamente
Cada vez que “um empregado de carteira” é transformado em terceirizado, mesas, máquinas, tijolos, equipamentos, terrenos, deixam de ser contabilizados no núcleo central de operações (NCO) e passam a ser responsabilidade do parceiro trabalhando na rede.
PCCI: Que efeito sobre a contabilização tradicional deve ocorrer quando um grupo de seres humanos deixa de estar vinculado com fidelidade a uma empresa principal e passa a ser regido simplesmente por um contrato de parceria?
3. A flexibilidade de horários será cada vez maior e mesmo o trabalho tradicional será cada vez mais feito em casa
Com o mesmo raciocínio do item anterior, grandes sedes serão desmontadas com tendência de alto impacto sobre o conceito tradicional do ativo tangível diminuindo o conjunto de bens físicos de uma organização.
PCCI: Ao diminuir o tamanho dos seus escritórios que efeito ocorrerá sobre o patrimônio líquido da empresa? Uma diminuição decorrente da redução destes bens físicos ou um aumento como conseqüência do maior nível de flexibilidade de custos que esta empresa passará a ter?
4. Os serviços serão cada vez mais importantes na formação do PIB
As previsões podem ser aterradoras, mas devem ser levadas em consideração. Por volta de 2020, nos Estados Unidos, 2% das pessoas estarão produzindo todos os alimentos necessários ao restante da população. Da mesma maneira, outros 2% estarão produzindo todos os produtos físicos que a nação necessita. Com isso, o trabalhador do conhecimento Druckeriano aumentará cada vez mais o valor agregado à produção, incorporando inteligência e não capital físico aos empreendimentos.
PCCI: Como contabilizar o cérebro de um trabalhador intelectual?
5. Megasoftwares virão revolucionar a organização das empresas
Mesmo a parte tradicional remanescente das organizações sofrerá uma brutal revolução ficando a atividade burocrática humana praticamente zerada.
PCCI: De quanto aumenta o patrimônio real de uma organização que implanta por exemplo um sistema SAP de modo satisfatório?
6. A competitividade – o paradoxo da melhoria da qualidade com diminuição de preços – será uma síndrome permanente
Funções divisionalizáveis – RH, finanças, controladoria, orçamento e inúmeras outras – serão incorporadas às unidades de operação, aumentando o valor agregado e diminuindo o patrimônio físico tradicional.
PCCI: Como serão contabilizadas no balanço patrimonial as novas capacitações de orquestração e descentralização que gerenciarão de forma efetiva e produtiva todos os seres humanos?
7. A inovação permanente será um fator crítico de sucesso se não de sobrevivência das organizações.
Verbas cada vez mais volumosas serão destinadas a criação de novos produtos, serviços, sistemas e processos em um movimento obcecado rumo ao novo.
PCCI: Quanto valerá a mais uma empresa que consegue efetivamente implementar uma média anual de produtos novos correspondente a 10% sobre o faturamento?
8. Treinamento e aprendizado contínuo, no conceito mais nobre da Organização do Aprendizado (Learning Organization), receberão recursos cada vez mais substanciais como estratégia de enfrentamento do desafio da mudança.
Os cérebros serão desenvolvidos no limite da obsessão através de processos cada vez mais voltados para a melhoria de performance caracterizando claramente um padrão de melhoria contínua, pelo menos em primeira instância, no campo do intangível.
PCCI: Que diferença patrimonial existe entre duas empresas no mesmo setor quando uma tem uma inteligência competitiva voltada para resultados e outra relega o aprendizado ao estrato teórico do descartável. (Sempre é bom lembrar que nos modos tradicionais até hoje, o que é gasto em treinamento e desenvolvimento é debitado em custo gerando efeito direto sobre a diminuição do patrimônio da empresa).
9. Uma sólida cultura, com o alinhamento de valores e princípios e a determinação de uma visão compartilhada será cada vez mais fator de diferenciação competitiva das organizações.
James Collins, demonstrou em seu brilhante livro “Feitas para Durar”, que um dos principais atributos comuns às empresas visionárias com desempenho econômico máximo se constituía na cultura arraigada baseada em fortes princípios específicos a cada organização.
PCCI: Quanto vale a mais no patrimônio de uma empresa um conjunto de seres humanos que tenham efetivamente um sentido homogêneo de direção?
10. Diante das enormes dificuldades do ambiente externo os talentos humanos serão cada vez mais escassos.
Na eterna lei da oferta e da demanda, estes talentos escolherão a empresa que oferecer o ambiente humano mais propício ao seu desenvolvimento – principalmente os novos executivos da geração X(**) – e recompensar de forma mais justa o seu real valor.
PCCI: Que valor imputar ao capital de uma empresa que foi eleita em pesquisa recente como uma das dez melhores empresas para se trabalhar?
11. No mundo do pluralismo e da multiplicidade, principalmente do comércio eletrônico, deter e alimentar uma marca reconhecida e respeitada será uma estratégia cada vez mais perseguida.
Esta será das poucas estratégias que permitirão uma saída honrosa para a perversa corrida da competitividade; com uma forte marca ter-se-á clientes mais féis que aceitarão pagar um “delta X” de preços. É por isso que a Phillips Morris vale 50 bilhões de dólares em termos de mercado, enquanto seus ativos fixos não ultrapassam 2 bilhões de dólares.
PCCI: Quanto debitar ou creditar pelo valor de uma marca no balanço patrimonial, principalmente se ela pertencer a uma empresa de médio e grande porte? Até que ponto a fidelidade de um grupo de clientes merece ser incorporada a este patrimônio?
12. No mundo da infinitização do comércio virtual a logística com base em forte capacitação informática será cada vez mais um efetivo atributo de sucesso.
No momento em que do ponto mais distante de um país e do mundo for possível comprar um perfume, um livro, um pão de queijo, e a competitividade exigir custos compatíveis, empresas estruturadas verticalmente ou em rede deverão dominar o fator crítico de sucesso da logística.
PCCI: Que cálculo deverá ser feito para quantificar o patrimônio embutido na excelência de um sistema logístico o qual deverá estar muito distante da soma dos valores dos caminhões e computadores contabilizados no ativo fixo desta empresa?
Em grande resumo, portanto, não temos pela frente um novo estilo de administração e muito menos um modismo. Entra-se em um novo paradigma claramente reforçado pelas doze tendências acima conceituadas que mudarão a maneira de construir, consolidar e desenvolver organizações de qualquer porte. Por isto, o conceito do capital intelectual, do ativo intangível, da inteligência competitiva, deverá ser disseminado até para os jovens que se formarão entre os empreendedores do futuro. Neste novo milênio vai valer acima de tudo a agregação de valor e a geração de riqueza contidas nos cérebros das pessoas. Vale então uma instigante pergunta crítica sobre capital intelectual final: se 20% do seu pessoal de comando, especificamente aquele pertencente ao estrato de maior inteligência, capacitação e comprometimento com a cultura de sua empresa, forem contratados pela concorrência quanto o seu contador abaterá do seu patrimônio líquido no dia seguinte?
( * ) Ver detalhes conceituais sobre o Capital Intelectual no artigo XXXXX publicado no Insight MVC nº X do Instituto MVC.
(**) Ver artigo Geração X – Trabalhando Para Viver de Marco Aurélio Ferreira Vianna, publicado na edição nº 16 do Ameaças & Oportunidades
Rio de Janeiro: Tel. (021) 518-2321 – E-mail: imvianna@unisys.com.br
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