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Inovar é uma missão para todos da empresa

Por Patrícia Bispo para o RH.com.br
O conceito de inovação já não é mais o mesmo, ele foi ampliado. Isso é o que aponta a Pesquisa de Inovação Tecnológica realizada recentemente pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Os dados desse trabalho, que tomou como base o ano de 2008, revelam que a compreensão sobre inovação venceu fronteiras, notadamente no campo organizacional. Nos últimos oito anos, por exemplo, o percentual de indústrias brasileiras consideradas inovadoras aumentou em 21%. Mas, que implicações esse fato traz à Gestão de Pessoas? Para responder essa e outras questões, o RH.com.br, entrevistou Anderson Rossi, pesquisador e professor do Núcleo de Inovação da Fundação Dom Cabral.
Segundo ele, hoje, as empresas entendem que a inovação tornou-se uma estratégia para a sobrevivência dos negócios e passaram a “persegui-la”. E como as pessoas são as que fazem a inovação acontecer no campo corporativo, consequentemente, há impactos diretos na Gestão de Pessoas. “Nenhum profissional quer agregar seu talento a uma organização não inovadora e obsoleta, já que a chance de crescimento profissional fica comprometida”, alerta Anderson Rossi, ao ser indagado se a inovação estimula a atração e a retenção de talentos. Em um universo globalizado, não existe mais espaço para aqueles que tentam ignorar a presença da inovação no dia a dia das organizações. Por essa razão, essa entrevista merece alguns minutos de sua atenção já que pode se tornar um ponto de partida para a inovação ser incorporada à sua realidade corporativa. Boa leitura!
RH.com.br – Hoje, o conceito sobre inovação tem uma nova conotação para o âmbito corporativo? Por quê?
Anderson Rossi – Na verdade, o conceito não alterou, ele ampliou. Inovação é sinônimo de reinvenção e de competitividade. Inovar também está relacionado com a capacidade da empresa antecipar o futuro. As organizações entenderam que a inovação é estratégica e primordial para a sobrevivência dos negócios, daí passaram a persegui-la. Por meio da inovação as empresas criam e geram valor para os seus clientes. Com a abertura do nosso mercado nos anos 90 e com o crescimento da competição entre as empresas, inovar passou a ser mandatório para a longevidade dos negócios. A inovação rompeu as fronteiras dos laboratórios de pesquisa e desenvolvimento, e passou a ser implementada pelas diversas áreas da organização. A inovação está relacionada com gestão e lida com os conceitos de eficiência e eficácia. Inovar é missão de todos da empresa.

RH – Quais os pontos que o senhor considera como positivos na ampliação desse conceito?
Anderson Rossi – O ponto mais positivo é a ampliação do conceito de inovação e o envolvimento de todas as pessoas das empresas, na missão de inovar. A inovação é feita pelas pessoas e, por isso, as empresas têm que criar as condições para captar as ideias dos colaboradores e transformá-las em negócios efetivos. Se não ocorrer a transformação das ideias em algo economicamente viável e rentável, a empresa inventou e não inovou.

RH – Há fatores que podem ser considerados negativos diante da inovação?
Anderson Rossi – Não vejo fatores negativos na inovação, já que ela tem a ver com mudança, com fazer diferente na busca de melhores soluções para a empresa. Como já ressaltado, a inovação está relacionada com a sobrevivência da empresa e a longevidade nos mercados. Para alguns colaboradores das empresas, inovar significa mais trabalho, mais ações e isso, às vezes, pode ser considerado como negativo. Em minha opinião, a questão negativa é não inovar, ficar obsoleto e desaparecer do mercado.

RH – Em sua opinião, qual o grande desafio que se coloca à frente da inovação?
Anderson Rossi – O maior desafio está relacionado com a mudança de postura das pessoas nas organizações para inovar. Em muitos casos, é preciso vencer as resistências internas e o status quo para alterar o mindset. Inovar dá trabalho, exige persistência, investimento e envolve riscos. Daí a importância de contar com mais atores envolvidos no processo de inovação na tentativa de se encontrar as melhores soluções para a empresa com menos investimentos e no menor espaço de tempo. O grande desafio está em criar a cultura de inovação nas empresas. Em muitos casos, a empresa desenvolve parceiros externos para alavancar a inovação na tentativa de diluir riscos e acelerar o processo. É a chamada inovação aberta.

RH – A ampliação do conceito sobre inovação exerce impactos diretos na Gestão de Pessoas?
Anderson Rossi – Com certeza porque são as pessoas que fazem a inovação. Não basta ter tecnologia, novas ferramentas se não tivermos pessoas motivadas envolvidas com a inovação. O desafio da organização está em criar condições favoráveis e políticas adequadas à Gestão de Pessoas para obter sucesso com a inovação. É importante ter mecanismos claros para reconhecer e premiar os esforços da equipe, premiando os vencedores e estimulando a inovação na organização.

RH – Uma organização aberta à inovação aumenta as chances de captar e reter talentos?
Anderson Rossi – Uma empresa reconhecidamente inovadora com certeza tende a atrair e a reter talentos. As pessoas querem colaborar com empresas vencedoras, onde o processo é mais fluido e a inovação já está incorporada à imagem da organização. A razão é simples, porque está relacionada com a longevidade da empresa. Alguns estudos comprovam que as empresas inovadoras faturam mais, exportam mais e pagam melhores salários, consequentemente, tendem a atrair mais talentos. Nenhum profissional quer agregar seu talento a uma organização não inovadora e obsoleta, já que a chance de crescimento profissional fica comprometida.

RH – No campo gerencial, como os dirigentes têm se comportado diante de tantos processos inovadores?
Anderson Rossi – Em recente pesquisa realizada pelo Núcleo de Inovação da Fundação Dom Cabral, 98% dos executivos brasileiros de médias e grandes empresas, consideram a inovação como sendo estratégica ao crescimento dos negócios. Entretanto, menos de 9% desses executivos, criam as condições e as ferramentas necessárias ao processo de inovação. Ou seja, não conseguem criar os processos favoráveis à adesão das equipes para inovar. Sem os processos e sem as ferramentas adequadas, não se consegue inovar e se cria uma frustração nas equipes. A inovação precisa ser sistematizada nas empresas para ganhar escala e fortalecer a cultura de inovação. Alguns dirigentes à moda antiga, ainda têm dificuldades para estabelecer este ambiente inovador, com as estruturas e os mecanismos adequados. A resistência existe e é grande, especialmente porque inovar envolve riscos e exige uma visão de longo prazo.

RH – Diante desse contexto, também surgem consequências ao clima organizacional?
Anderson Rossi – Com toda certeza. Como estimular as pessoas a inovar sem as condições adequadas? Não tendo as condições e as ferramentas corretas, o clima organizacional será afetado na medida em que os colaboradores serão estimulados a participar, mas não terão como colocar em prática suas ideias. Certamente, gerará um clima não favorável e desmotivador. O ser humano é movido a desafios e precisa ser reconhecido nas suas ações, especialmente na inovação. O maior impacto desta ação, está centrado na baixa taxa de inovação da grande maioria das empresas brasileiras. Uma empresa com um ambiente inovador e cultura pró-inovação tem um clima organizacional distinto das demais.

RH – Se a inovação está diretamente relacionada a ações estratégicas, isso implica em uma presença mais atuante do RH parceiro do negócio?
Anderson Rossi – Como a inovação está centrada nas pessoas, a participação do profissional de Recursos Humanos é fundamental para a criação de uma cultura de inovação assim como da alta gestão. São parceiros importantes na criação de uma cultura de inovação. O RH tem um papel estratégico que abrange desde a coordenação de comitês de inovação, motivação, políticas de reconhecimento até as políticas de ganho variáveis, atrelada ao desempenho da inovação. O trabalho deve ser realizado também em parceria com as demais áreas da empresa – Pesquisa e Desenvolvimento -, marketing, operações, finanças, outros, porque a inovação é responsabilidade de todos na empresa.