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Ninguém entra numa empresa para ser entendido, e sim para entendê-la, afirma Max Gehringer

Em entrevista exclusiva para o Administradores.com.br, o apresentador falou sobre carreira, mercado, perspectivas de futuro para os jovens profissionais e ainda guardou um espaço para declarações polêmicas sobre a geração Y
Por Luiza Fregapani*
O apresentador dos quadros “O conciliador” e “Meu primeiro emprego” do Fantástico, Max Gehringer, participou no último dia 22 do 6º Encontro Catarinense do Terceiro Setor (evento promovido pela FUCAS, em Florianópolis), oportunidade na qual conversamos com ele sobre carreira, mercado e perspectivas de futuro para os jovens profissionais. Futuro esse que, para ele, está no empreendedorismo. “O século XX foi o século em que as pessoas se prepararam para ser empregadas. No século XXI os jovens se preparam para ser empresários”, destaca.
Gehringer fala ainda sobre os desafios para os jovens no mercado atual e futuro, os principais erros cometidos por eles na hora de buscar um espaço enquanto profissionais e dá dicas sobre como se portar na busca por um emprego ou iniciar um negócio. “Antes de reclamar de que não tem emprego ou achar que escolheu o curso errado, os jovens devem buscar oportunidades”, destaca.
E o apresentador ainda reservou um espaço para declarações polêmicas. “O primeiro erro que todos cometem é desrespeitar o chefe. Nenhum funcionário tem entre suas atribuições avaliar o desempenho do chefe”, disse sobre os jovens profissionais.
Administradores.com.br – Quais as principais exigências do mercado para um jovem profissional em início de carreira?
Max Gehringer – Para se inserir no mercado de trabalho é necessário oferecer aquilo que o mercado está precisando. Não adianta ter faculdade, pós-graduação e intercâmbio se não é simplesmente isso que as empresas estão procurando. O maior índice de desemprego atual é entre os jovens de até 25 anos, formados em curso superior e que nunca trabalharam. As empresas procuram um equilíbrio entre currículo acadêmico e experiência prática. As pessoas que oferecem muito currículo acadêmico e nenhuma experiência prática perdem a vaga para alguém que tenha menos currículo acadêmico mas que possua dois ou três anos de experiência. É isso que as empresas estão procurando. Muitos não entendem isso e pensam: “Eu me formei e não consegui um emprego. Então vou fazer um MBA”. Aí continuam sem conseguir emprego e tentam aprimorar ainda mais o currículo acadêmico, em vez de buscarem experiências práticas.
Sobram vagas em determinadas áreas enquanto outras estão saturadas. Como mudar este quadro?
Na verdade, o que falta para o jovem é formação técnica ou começar a trabalhar o quanto antes. A idade ideal é começar pelos 17 anos. Incentivo os jovens a fazerem um curso técnico e só depois irem para a faculdade. Um não elimina o outro, e tendo um curso técnico você já consegue um emprego. No Brasil há um buraco no mercado de trabalho, e está sobrando pessoas com diploma universitário e faltando técnicos. Em torno de 92% dos técnicos estão empregados antes de terminar o curso. Então, antes de reclamar de que não tem emprego ou achar que escolheu o curso errado, os jovens devem buscar oportunidades. Existem oportunidades para quem quer ver, e para quem quiser chorar também tem bastante espaço.
Muitos jovens têm buscado abrir seus próprios negócios, em vez de optarem por um emprego. Esta é uma característica desta geração?
No século XIX as pessoas se preparavam para a agricultura. O século XX foi o século em que as pessoas se prepararam para ser empregadas. E o século XXI é quando os jovens se preparam para ser empresários. A carreira número um é ser empreendedor. Se não der certo, as pessoas viram empregadas. Os países crescem quando têm bons empreendedores, e não bons empregados. Uma pesquisa mostra que metade das empresas fecha antes de cinco anos, mas este é o mesmo número nos EUA e na Europa. Já as franquias têm índice de fechamento perto de 10%, no mesmo período. Isso por que a maior parte das decisões já foi tomada, e o franqueado recebe um negócio fechado, estruturado, em todas as áreas da empresa, com indicações que vão desde o treinamento dos funcionários até a decoração do local. Também não adianta ficar em casa esperando o emprego dos sonhos bater na porta. É necessário correr atrás. As pessoas que têm boas histórias para contar são aquelas que fizeram algo diferente, o que ninguém fez. É difícil conseguir um emprego? Entre em uma ONG, faça trabalho voluntário.
E quais são os principais desafios para os jovens nesse novo cenário?
Nunca houve uma geração de jovens tão bem preparada com a que está entrado no mercado agora. Porém é uma geração que tem uma ambição muito grande, que quer chegar rapidamente aonde gerações anteriores levaram anos e até décadas para chegar. Isso causou algo que é comum no mercado hoje, que é a mudança de emprego. Aos 25 anos, alguns já tiveram cinco empregos. A pessoa entra em uma empresa, passa seis meses, um ano, não é promovida e pensa que está na empresa errada. Mas esquecem que em gerações anteriores isso era o normal. Assim vai tentando em outras empresas, e quando está pela 4ª ou 5ª empresa começa a perceber que apesar do entusiasmo e da vontade de crescer, os gestores da empresa têm mais de 40 anos, são de uma geração que tem um ritmo diferente. Eles querem dois anos de bons resultados para oferecer uma promoção. É um choque de gerações. E este choque hoje acaba resultando em alta rotatividade. O principal desafio dos jovens é ter paciência para esperar as oportunidades. Para aprender a ter paciência, é necessário passar por dois ou três empregos e perceber que eles são todos parecidos. Isso acalma um pouco os jovens e ajuda a entender como funciona o mercado de trabalho.
Para você, quais são os principais erros cometidos pelos jovens profissionais?
O primeiro erro que todos cometem é desrespeitar o chefe. Nenhum funcionário tem entre suas atribuições avaliar o desempenho do chefe. São contratados por que existe um trabalho a ser feito e o chefe é responsável final por este trabalho. As pessoas são contratadas para dar suporte ao trabalho do chefe. A geração atual discute com os professores, discute com os pais, e chega ao mercado de trabalho achando que dá pra discutir com o chefe. Existe um senso de hierarquia e ordem que é um pouco difícil de ser entendido por alguns jovens. Assim, começar a trabalhar pelos 17 anos é interessante, pois nesta idade você ainda aceita ter um chefe, mesmo que não goste, e acaba incorporando, o que é mais difícil pelos 24 anos. Se relacionar bem com o chefe independentemente da sua opinião sobre ele é muito importante, pois ele recebeu da empresa um mandato temporário. Não quer dizer que ele seja melhor, mas que tem um título para exercer o trabalho. Se você não respeita a pessoa, tem que ao menos respeitar o cargo e a função que ela exerce. Na hora em que existe desrespeito ao chefe, há uma reação imediata, e sempre vai sobrar para o subordinado. Tem que saber se portar, e não tratá-lo como alguém igual ou inferior, pois neste caso, o cargo dele é superior ao seu.
Qual a importância de se levar em consideração a cultura da empresa antes de aceitar trabalhar para ela?
Quem entra numa empresa não entra para ser entendido, e sim para entender a empresa. Aprenda a cultura da empresa: pode falar palavrão? As pessoas se cumprimentam de manhã? Eu posso procurar uma empresa que tenha uma cultura parecida com a minha, mas não posso achar que a minha cultura vai prevalecer sobre a cultura da empresa. Se você se desentende com o chefe, ou não entende nem se adapta à cultura da empresa, é bem provável que seja demitido.
E na hora de se candidatar, qual a melhor maneira de chamar atenção dos recrutadores?
Este é um outro desafio. Os currículos estão padronizados demais. Os currículos em sites sequer permitem que as pessoas coloquem características mais pessoais, dizer se é emocional ou racional, por exemplo. Este lado pessoal é importante, mas não tem mais espaço nos currículos, principalmente com os sites, que focam só no profissional. Quando a pessoa manda um currículo, ela tenta chamar atenção e algumas colocam algo diferente. Alguns colocam o time que torcem, frases como “Deus é fiel”, ou até poesia, mas tudo depende de quem lê. Se a pessoa que receber um currículo com a frase “Deus é fiel” for religiosa, isso vai chamar muito a atenção. Mas se ela for alguém que deseja não misturar religião com a empresa, este currículo poderá ser descartado. É um risco. Se ela mandar 100 currículos com a mesma frase, pode ser que 30 se interessem por este diferencial.
*Luíza Fregapani é jornalista, fez a assessoria de imprensa do 6º Encontro Catarinense do Terceiro Setor e entrevistou Max Gehringer com exclusividade para o Administradores.com.br.