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O networking é superestimado

Professor de Wharton afirma que é difícil conseguir avanços sólidos na carreira sem ter conquistado nada além de relacionamentos com pessoas importantes.

FOTO: THINKSTOCK

Após entrevistar um investidor em um evento, o professor Adam Grant, da Wharton School, disse que só aceitaria perguntas — ou seja, não era para a audiência apresentar ao entrevistado suas ideias de negócios. A primeira pessoa a pegar o microfone pediu financiamento para sua startup. A segunda também. “Nosso evento educacional rapidamente se transformou em um episódio ruim de Shark Tank”, escreveu ele em artigo no The New York Times.

Na semana seguinte, em um evento similar, ele viu um dos presentes pedir o email pessoal de um CEO na frente de uma multidão. “Fiquei impressionado com o que quem vai a conferências de negócios faz para conseguir uma conexão com um grande nome: tentar entrar nos bastidores para tirar uma selfie, colocar cartões de visita na pasta da pessoa ou até a perseguir enquanto ela sai do evento”.

Não são todos assim, é verdade. Se você odeia a ideia de fazer networking, não está sozinho, avisa o professor. Isso faz com que as pessoas se sintam sujas — literalmente, a ponto de um estudo mostrar que nossa avaliação de sabonete e pasta de dente fica 19% mais positiva após imaginar que estamos tentando fazer contatos profissionais em uma festa.

Mesmo assim, todo mundo já ouviu alguém falar sobre a importância de ter contatos profissionais. É verdade que o networking te ajuda a conseguir coisas. Mas o contrário também é verdade: alcançar grandes feitos te ajuda a desenvolver o networking.

É só olhar para o mundo do entretenimento. Para George Lucas, o sucesso começou quando Francis Ford Coppola o contratou como assistente de produção e foi seu mentor. Lucas não cavou essa relação do nada. Como estudante, ele ganhou um prêmio em um festival nacional e uma bolsa para ser aprendiz em um filme da Warner Bros.

Outro exemplo é a carreira de Justin Bieber: apesar de ele ter feito muito sucesso após o apoio de Usher, ele não conseguiu essa relação com uma reunião. Ele aprendeu sozinho a cantar e a tocar, colocou alguns vídeos no YouTube e foi encontrado por um produtor. Adele também foi descoberta dessa forma: ela gravou um demo de três músicas, um amigo postou em sua página do Myspace e um executivo da indústria musical ouviu. Eles desenvolveram seu talento e compartilharam isso, e por isso eles conseguiram conexões importantes.

Para empreendedores, grandes feitos também podem atrair mentores e apoiadores. A marca de lingerie Spanx decolou quando Oprah Winfrey a escolheu como uma das melhores coisas do ano, mas não porque a fundadora da empresa, Sara Blakely, ficou perseguindo Oprah. Por dois anos, Sara vendeu aparelhos de fax para conseguir desenvolver seu protótipo de cintas à noite. Ela então enviou uma de suas primeiras levas para Oprah.

É claro que ter boas relações ajuda. Um estudo feito com startups que trabalham com segurança da informação mostrou que o fato de o fundador ter conexões com um investidor antes de criar a empresa aumentava a chance de ele conseguir um investidor no primeiro ano. Mas a relação anterior era praticamente irrelevante depois disso.

De forma similar, um estudo feito em hospitais mostrou que os radiologistas que conseguiam formar as melhores redes de relacionamento tinham o melhor desempenho nos nove meses seguintes. Em bancos, os funcionários que se destacam atraem mais relacionamentos e são mais propensos a manter essas conexões. As realizações não apenas ajudam a criar uma rede de relacionamentos, mas também a manter esses laços.

“Já vi um colega tentar alcançar o sucesso apostando apenas no networking”, contou Grant. Por alguns anos, esse colega conseguiu conhecer pessoas influentes e se apresentar a outras. Mas, eventualmente, tudo caiu por terra quando ele percebeu que não tinha nenhuma relação verdadeira com nenhum deles. “O networking sozinho leva a transações vazias, não a relacionamentos enriquecedores”.

Os alunos, diz Grant, costumam acreditar que ao conhecerem pessoas importantes, seu trabalho vai melhorar. Mas é difícil se conectar a essas pessoas sem ter provado seu valor ao mundo. É isso que chama a atenção de potenciais patrocinadores e mentores. Suas conquistas mostram que você tem algo a oferecer em troca.

“Você pode disparar e-mails impessoais a pessoas que você respeita — elas estão a um clique de distância, mas você terá sorte se 2% responderem”, afirma Grant. “A melhor forma de atrair um mentor é criar algo que chame a atenção dele. Faça algo interessante. E, em vez de ter que cavar o seu espaço, você será puxado”.

Isso não quer dizer que o sucesso em qualquer área é algo puramente meritocrático. É muito mais fácil obter crédito por seus feitos e chamar a atenção da elite empresarial se você é um homem branco, tem vários diplomas de universidades chiques, trabalhou em empresas de prestígio, se sua família é rica e se você não tem sotaque, diz o professor, citando várias pesquisas. Mas, se você não se encaixa nesse perfil, é ainda mais importante criar um portfólio que prove o seu potencial.

Por outro lado, suas conquistas só servirão para construir seu networking se as pessoas souberem o que você fez. Você precisa saber promover suas ideias — não você mesmo. Estudos já demonstraram que falar bem sobre você não te ajuda a conseguir um emprego, e os funcionários que ficam se gabando tendem a ganhar menos aumentos e ser promovidos menos frequentemente.

“Pare de se preocupar com o networking. Siga o conselho de George Lucas e Sara Blakely: faça um filme interessante ou invente um produto útil”, resume Grant. “E não se sinta pressionado a ir a eventos de networking”. Ninguém realmente conhece alguém novo em eventos desse tipo — apesar de as pessoas estarem preparadas para isso e dispostas a isso, acabam conversando com velhos amigos.

Fonte: http://epocanegocios.globo.com/Carreira/noticia/2017/09/o-networking-e-superestimado.html