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Da Escola à Aposentadoria

Qual é mesmo a sua missão?
Por: Antonio Amorim
Em pleno carnaval, um tempo dedicado ao lazer e ao “ócio criativo”, dedico esse espaço a uma reflexão produzida ao longo do tempo e, mais recentemente, por dois contatos profissionais que tive.
O primeiro deles se deu com uma adolescente, maltratada pelo nosso modelo educacional, sempre preocupado em tratar a todos de forma igual, esperando que sejam bons em Matemática, Português, História, Química e Geografia, entre outros, como se um peixe pudesse ter as mesmas habilidades que um macaco…
E o mais cruel de tudo isso é que se alguém é bom em Português e “fraco” em Matemática, ele vai fazer reforço em… Matemática!
É como um adestrador esperar que o peixe suba em árvore e o macaco viva em baixo d’água, algo assim…
Mas voltemos ao nosso aluno “fera” em Português, passando as tardes com um professor de “banca” em Matemática.
Mas para que isso? Para passar de ano?
Se esse cuidado se der pela consciência da importância de ter noções de Matemática na vida prática ou até mesmo se o Professor conseguir despertar o interesse do aluno pelos números, a coisa é outra.
Mas para “cumprir tabela” e passar de ano…
E quando ele se formar? Vai trabalhar em quê? Por exemplo, na redação de um jornal.
Que precisa ser bom em quê? Em Português!
E por que não fez reforço em Português?
Porque a escola não estava preparada e preocupada com isso, não o estimulou a identificar o que ele gosta e tem talento.
Se uma escola é tratada como uma indústria e o seu foco é exclusivamente produzir, aqui reside a natureza básica do problema que estamos discutindo.
Na época do vestibular então… Tome-lhe aulas, aulas, aulas, dicas e “intensivão” para passar.
Se um ser humano ficasse “congelado” nos últimos 10 anos e retornasse hoje à vida na sociedade, dificilmente iria entender o modo como nos comunicamos nessa era informatizada, com absoluta mudança de hábitos.
Provavelmente o único lugar onde ele se “sentiria em casa”, pois iria encontrar tudo quase do mesmo jeito seria numa… sala de aula!
Após iniciar a elaboração desse artigo comecei a ler um livro interessante: “Tecnologia na Educação” de Raquel Villardi e Eloiza Oliveira, Ed. Qualitymark.
E nele encontrei a seguinte conclusão das autoras “É necessário, portanto, conjugar o “moderno fazer da escola”, como diz Erikson, com a tendência própria da infância de descobrir o mundo ludicamente e aprender o que é preciso fazendo o que se gosta de fazer”.
Dizem ainda, “As necessidades do homem e da vida contemporânea, porém, ultrapassam em muito os estreitos limites da reduplicação de procedimentos e do armazenamento de informações, à medida que tais processos foram sendo, ao longo da história humana, delegados às máquinas”.
Mas, afinal, qual carreira você vai seguir?
Médico, seu pai é médico!
Ou quem sabe Administração de Empresas, seu pai já tem um negócio bem montado…
Eu sempre me lembro de um Médico que conheci e que quando dava 17h ele saia correndo da fábrica e um dia me revelou: “Fiz medicina porque meu pai insistiu, já tinha consultório, mas eu queria ser um atleta profissional”.
Ele saia correndo da fábrica para jogar futebol no Clube dos Médicos!
A revista Veja fez uma pesquisa certa feita e detectou que mais de 70% das pessoas que entram em determinada carreira, acabam mudando de profissão.
Confesso que faço parte dessa estatística…
Outro dia, conversando com o Prof. Jorge Portugal sobre esse assunto, ele me falou que vários alunos que passaram pelos seus cursos de pré-vestibular, retornavam para fazer de novo o “cursinho” por não terem se identificado com a carreira.
O navegador e escritor Amyr Klink disse certa vez “Agradeço profundamente ter escolhido Economia. Quando eu terminei o curso, eu não sabia exatamente o que eu iria fazer, mas sabia exatamente o que eu não iria ser: Economista!”.
Felizes são os “convidados para a ceia do Senhor” e felizes são aqueles que escolhem a profissão correta – isso é sinônimo de ganho de tempo, saúde e sucesso.
Mas… Não esperem que isso venha desse modelo educacional arcaico e cada vez mais preocupado com a “desova” de profissionais no mercado, sem qualquer referência de autoconhecimento.
Então, caberá ao profissional, por vezes já maduro buscar conhecer-se, fazer terapia ou Coaching, para alinhar os seus talentos e o que tem prazer em realizar, com a sua missão, ganhar dinheiro e gerar benefícios aos outros.
Passemos ao segundo momento dessa provocação.
Essa se deu em um contato com uma organização preocupada em criar um Programa de Demissão Voluntária-PDV, aposentadoria incentivada.
Os profissionais enquanto estão vivendo dentro do “aquário”, como chamo em meu livro “Construindo Pontes: 10 passos do aquário (emprego) para o oceano (trabalho)”, Ed. Qualitymark, estão sendo cuidados com treinamento, bons salários, assistência médica, planos de previdência privada e outros.
Estimulados que são a “vestir a camisa” da empresa, vivem, por vezes, a doce ilusão de que “isso aqui é minha vida”.
Quando estive Gerente Administrativo de duas grandes empresas, ouvi um depoimento preocupante de um operador da fábrica: “Eu já tenho tempo para me aposentar, mas estou prorrogando o pedido de aposentadoria, porque tenho medo que aconteça comigo o que eu vi acontecer com alguns colegas meus que acabaram deprimidos ou dependentes de álcool”.
Preocupante, não?
Tanto comprometimento, a vida feita ali, vestindo a camisa e no dia da despedida, ele recebe os direitos, talvez uma placa ou relógio e alguns benefícios, mas…
E o dia seguinte?
“A ingratidão é um crime tão hediondo que deveria fazer parte da Constituição”, desconheço o autor, mas acompanho o relator…
Penso mesmo que isso deveria ser objeto de um projeto de lei: toda empresa deveria ter um programa estruturado para preparar as pessoas para a aposentadoria e mesmo para um processo de demissão.
Não são poucos os que sentem e se ressentem quando são “jogados para fora do aquário” e entregues a um “oceano” de oportunidades, mas sem nenhum preparo.
Quando recebo um convite para ajudar um adolescente na escolha da sua profissão ou uma empresa na elaboração de um programa de humanização que contempla o futuro das pessoas, como aconteceu recentemente, sinto que estou trabalhando na minha missão.
“Se o Google é meu pastor, nada me faltará” e fui ao Google para fechar esse artigo com uma sucinta definição de Missão:
“A definição da missão deve responder a pergunta: Estou no mercado (ou na sociedade) para quê?”.
Não é essa a pergunta que as escolas deveriam ajudar os seus alunos a responder?
E não é essa a resposta que um profissional precisa saber quando deixar a sua organização em direção a uma nova etapa da vida?
Para finalizar, um pensamento do Aristóteles que pelo visto já andava atento às essas questões… “Onde seus talentos e as necessidades do mundo se cruzam, aí está a sua vocação”.

Antonio Amorim
Desenvolvimento Humano e Organizacional
www.antonioamorim.com.br